quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Por um trabalho mais humano.

Por Paulo Sanda

Agora eu vou falar.
Se você assistiu aos vídeos sobre a fábrica de jeans na China, deve estar com um gosto amargo na boca. Com certeza, há muito a se discutir sobre este assunto. Podemos criar páginas e mais páginas, livros, etc. Mas vamos por outro caminho, por enquanto.
Convoco sua imaginação agora para a seguinte cena:
Em um belo final de tarde, você sai a calçada, ou desce a área comum de seu condomínio, leva uma bebida (pode ser uma cerveja, um refrigerante, um chá enfim o que for) talvez algo para beliscar, senta-se com os vizinhos e fica conversando enquanto olham as crianças brincando. Nada de trabalho, falam sobre a vida, o tempo, contam piadas, etc. Ou quem sabe levar um violão e fazerem uma roda de músicas, recitar poemas, enfim um SARAU (para quem não sabe um evento cultural informal, as pessoas se encontram para se expressarem artisticamente).
E ai o que achou?
Talvez você tenha pensado:
Mas eu faço isto de vez em quando, pelo menos uma vez por semana.
Parabéns, você é um privilegiado, só posso dizer que, se inveja matasse eu estaria fulminado.
Mas provavelmente, deve estar achando que eu sou algum lunático:
Quem tem tempo para isto? Trabalho o dia todo, chego tarde em casa, começo a trabalhar no domingo a tarde e só para no sábado de manhã e olha lá!
Falar sobre o que? Nem conheço meu vizinho!
Não para por ai, tem muita gente que nem consegue se imaginar falando sobre outra coisa que não seja trabalho.
Pois é justamente neste ponto que eu quero tocar.
No documentário que assistimos (se não o fez, pare de ler agora e volte no meu post anterior para assistir), deve ter se revoltado com o dono da fábrica de jeans. A exploração dos funcionários, os argumentos que ele usa para se justificar e a falsidade de toda aquela estrutura que visa apenas uma coisa, dinheiro. E como bem disse o grupo Dire Straits, “money for nothing”.
Bom se ficamos revoltados com isto porque não nos revoltamos com nossa própria exploração?
Explico; em um recente artigo do jornal Folha de São Paulo (edição de 23/1/2011), Márcio Pochamann presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) diz que o descanso semanal médio que era de 48 horas baixou para 27 horas (você pode ler esta matéria na integra em http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=40165).
Sem querer entrar no mérito das razões pessoais de cada um, cabe aqui uma reflexão. Trabalhamos cada vez mais para dar conta de um desejo crescente por bens de consumo. Não adianta dizer que é para sobreviver, pois o que queremos é; manter ou subir nosso “padrão de vida”, traduzindo, manter ou aumentar nosso poder de consumo.
Nesta roda viva, escravizamos a nós mesmos, proporcionamos a exploração de outras pessoas, colaboramos ativamente na degradação de nosso planeta. Deixamos de ser humanos para sermos consumidores. Não vivemos para um projeto de vida, nossos objetivos são planos de consumo.
Não precisa concordar comigo, mas pense um pouco.
Durante este mês, quando tempo dedicou para sua família, seus amigos, trabalho voluntário, etc?
Quantas atividades de lazer sua não estão ligadas diretamente ao consumo? Ao invés de ir ao shopping center, fazer uma visita a um parente ou amigo, por exemplo.
Pensou?
Ok, vamos dar uma volta no shopping, estou de olho em um novo celular....

Nenhum comentário:

Postar um comentário