terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Ruah esteve no 2º Theologando Internacional

Da esquerda para direita Paulo Sanda (Palestrante da Ruah), o teólogo Andres Torres
Queriuga e André Luiz Alves da Silva (Palestrante da Ruah)


Andrés Torres Queiruga é um dos maiores teólogos da atualidade e elabora a sua teologia em pleno diálogo com a pós-modernidade. Foi um dos palestrantes do 2º Theologando Internacional promovido pela Fonte Editorial.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Um sermão denunciando Belo Monte?




Para que vocês saibam, vim aqui, eu que represento a voz de Cristo. E por isto convém que prestem toda atenção, não uma qualquer, mas a de seus corações, e sentimentos, ouçam a maior novidade que jamais ouviram, a mais áspera e dura, a mais espantosa e perigosa, que jamais imaginaram que ouviriam.
Esta é a voz que todos estais em pecado mortal, e nele vivem e morrem, por causa da crueldade e tirania que usais com estas pessoas inocentes.
Digam, com que direito e com que justiça, tratam em tão cruel servidão esses índios?
Com que autoridade, fazem estas coisas detestáveis com essa gente, que estavam em suas terras mansas e pacíficas, onde tão infinitas delas, com mortes e estragos nunca ouvidos, vocês os tem consumido?
Como os oprimem e exaurem, retirando sua comida, e meio de vida? Como podem tratá-los desta forma, até que eles morram? Ou melhor até que vocês os matem?
Tudo isto para conseguir o ouro de cada dia?
Eles não são homens? Não tem almas racionais?
Não somos obrigados a amá-los como a nós mesmos?
Não entendem isto?
Não percebem isto?
Como dormem tão profundamente neste sono tão letárgico?

Quem adivinha onde foi proferido este sermão?
Talvez um padre ou um pastor, o tenham feito em algum lugar na floresta amazônica?
Ou talvez no pantanal?
Sim poderia ser, é bastante atual.
Mas não, ele pode até ter sido utilizado, em algum culto, missa, ofício, etc. Aliás acredito que deveria ser sim, pregrado em muitos lugares, ou melhor pelo mundo todo, e para todos ouvirmos.
Mas este sermão, foi feito pelo padre dominicano (da ordem de São Domingos) Antônio Montesinos, em 1511. Este sermão foi proferido sobre “Ego vox clamantis in deserto” / Eu sou a voz que clama no deserto, do evangelho de Mateus, no trecho que fala de João Batista.
Tratava-se de uma denúncia sobre a forma de dominação, que os espanhóis impunham aos indígenas que habitavam na ilha de Cuba.
Não é preciso muita pesquisa ou imaginação, para saber o que se passava.
Os espanhóis tomaram a terra dos índios, os escravizavam e massacravam.
Passados 500 anos, continuamos a fazer isto.
Escrevi aqui, este sermão na esperança que o “vocês” usado por Montesinos, possa ser lido como:
Você Dilma.
Vocês todos políticos.
Vocês todos empresários.
Vocês todos brasileiros.
Enfim, que cada um de nós possa ouvir este eco do passado, que reverbera no grito agonizante destas culturas, destes povos, destas pessoas que massacramos em nome do “desenvolvimento”.
Da natureza que devastamos em nome do “bem maior”.
O nome deste “bem maior”, deste “desenvolvimento” é dinheiro, capital.
Alguns podem pensar, em emprego, transporte, saúde, educação, enfim bem estar e justiça social.
Sinto amigo, não é isto, o capital só serve ao capital. Todo o resto é cortina de fumaça.
Não fosse assim, com certeza, não estaríamos investindo milhões em um estádio de futebol em São Paulo, pelo menos não antes do transporte, educação e saúde estivessem no estado da arte.
Não investiríamos bilhões em obras faraônicas, como as usinas hidroelétricas, sem antes atentar para as necessidades das pessoas, na justiça social e nos direitos humanos.
Não haveriam pessoas que dizem que precisamos da energia que teoricamente será gerada por Belo Monte, pois antes pensaríamos na vida.
Aliás, se a vida estivesse em primeiro lugar, não usaríamos tanto a palavra CUSTO.
Sim, pois tudo custa, mas o que primeiro custa, é o dinheiro.
O capital, desenvolvimento e dinheiro não são ferramentas para humanização, nem para preservação da vida como um todo.
Mas a vida, é ferramenta para o desenvolvimento do capital.
Será que não percebemos isto?
Será que não entendemos isto?
Como podemos continuar neste sonho letárgico que a humanidade será possível, se continuarmos a seguir este caminho?

Obrigado pelo recado padre Montesinos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Não é possível acabar com o trabalho escravo.


Juntamente com milhares de brasileiros, fiquei profundamente chocado com as cenas do programa a Liga da rede Bandeirantes.

Não que desconhecesse o assunto, sabia sim. Uma denúncia aqui, outra acolá, ficamos tristes, chocados, coléricos, deprimidos, etc. Mas passados alguns minutos, voltamos a nossa vidinha.

Afinal é preciso pagar as contas.

Ai que a coisa pega!

Não sei se você já reparou, mas corremos atrás do rabo, quanto mais trabalhamos, mais contas nos aparecem. É o verdadeiro “milagre” da multiplicação das contas.

Mas este “milagre” é bem planejado.

Para que o sistema capitalista, baseado no consumo sem mantenha, é preciso que os produtos sejam consumidos em uma velocidade cada vez maior. Precisamos comprar, produtos, serviços e todo tipo de porcaria, num ritmo cada vez mais frenético. Basta um pequeno vacilo e esta economia fica “ressentida”, entra em crise.

Não vou gastar seu tempo lendo sobre este assunto, aconselho que vá ao site da fundação Story of Stuff de nossa querida Annie Leonard e assista o filme. Em vinte minutos você terá um amplo panorama deste assunto.

http://www.storyofstuff.com

Ou  no meu blog, você pode ver este vídeo em português.

Vamos então, mais fundo nesta historia.

No programa a Liga de ontem, após todas aquelas histórias, o Leonardo Sakamoto da ONG Reporter Brasil, comenta que o trabalho escravo só vai acabar, quando houver oportunidade para todos, condições de todos terem os direitos básicos, direitos que constam na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Como alimentação, moradia, saúde, trabalho, estudo, lazer, etc.

O problema é que mesmo em países signatários desta declaração, que é o caso do Brasil, estes direitos não são respeitados.

A questão é que isto não é possível.

Pelo menos não é possível, pensar que conseguiremos um dia incluir todos neste sistema de consumo que vivemos.

Por motivos simples;

A exclusão é necessária→ Um exemplo simples disto é o que acontece hoje na Africa do Sul.

Enquanto durou o sistema de segregação racial, os brancos puderam ter um bom padrão de vida, pois havia uma grande massa de negros para serem oprimidos e explorados. Hoje a coisa está complicada, não cabem todos neste barco.

Para que nós tenhamos o que desejamos, muitos tem que dividir a conta conosco.

Se você tirou um tempinho para ver o vídeo da Annie Leonard que citei, entenderá do que estou falando, se ainda não viu, tenha mais um pouco de paciência comigo, leia este artigo até o final então vá correndo ver a Annie antes que esqueça tudo e volte para a “vidinha”.

Uma ilustração que podemos fazer deste assunto, é a seguinte;

Estamos comendo em um fino e caro restaurante, mas não podemos pagar a conta.

Então as pessoas que nos olham famintas pela vitrine, são chamadas, não para participar da refeição, mas para ajudar a pagar a conta do que comemos.

Ou pior ainda, além de ajudarem a pagar a conta, o restaurante, já havia tirado destas pessoas, o que tinham para comer, para nos preparar o banquete que iriamos degustar, pois não havia alimentos o suficiente.

Neste ponto, chegamos no outro motivo.

O planeta não comporta → O sistema de consumo em que vivemos é utópico, a velocidade com que retiramos dele os recursos que “precisamos” não é a mesma que ele tem para se regenerar.

E como os ecossistemas não comportam a super exploração e super degradação a que são expostos, vamos retirar os recursos de quem não tem. E pronto voltamos novamente ao primeiro exemplo.

Trata-se de um círculo simples e “maligno”.

Por isto eu afirmo, não é possível acabar com o trabalho escravo.

Se queremos continuar a viver neste sistema capitalista e consumista, precisamos continuar a explorar outras pessoas.

Mas tem uma coisinha, apesar do sacrifício que os pobres e miseráveis fazem por nós, mesmo assim, não será possível manter nossos tão queridos padrões de vida.

Afinal os recursos naturais estão acabando por todo mundo.

Aqui no Brasil, estamos a poucos passos de dar o golpe de misericórdia em nossas florestas com as alterações propostas em nosso código florestal pelo Aldo Rebelo, e com a construção de inúmeras hidroelétricas na floresta amazônica e no Brasil central, Belo Monte, Santo Antônio, Jirau, já está em andamento, depois delas teremos mais dezenas delas para podermos minerar o subsolo da floresta.

E antes mesmo que a natureza nos diga chega, estão explodindo por várias partes do globo, manifestações contra este regime. Muitas vezes as pessoas nem entendem muito bem, porque estão indignadas. Na semana passada na Inglaterra, manifestações viraram saques, afinal aqueles jovens queriam consumir mais, e como a grana não dava para tudo que queriam, resolveram saquear.

Um dia a moda pega, então os miseráveis, cansados de serem oprimidos, irão começar a saquear. Afinal eles querem comer, mas a grana não dá.

Quer evitar isto?

Não fique alienado, antes de ficar na “vidinha” correndo atrás de dinheiro, tome um banho de informação, no Ecodebate, IHU On Line, e em outros portais alternativos, fique indignado assistindo matérias de denúncia como as da Liga e outros, veja o documentários como “Capitalismo Uma História de Amor” do cinegrafista Michael Moore, mantenha-se informado, pegue seu coração e fertilize com as mazelas de nossa sociedade e nosso sistema, se quiser me dar também a honra de colaborar neste processo, acompanhe meu blog

Faça isto e convide seus amigos a fazer o mesmo, após convencidos, peça a eles que também convidem mais pessoas.

Acredito que ainda dá tempo de construirmos um mundo um pouquinho melhor.

Antes que ele acabe para nós.












sexta-feira, 29 de julho de 2011

Pode guardar as panelas. FOME!

Samba no pé e comida na boca... ops... comida?... nem todo mundo pode dizer isso! Nesse novo RuahPodcast os dois "enrolões" Paulo Sanda e André Luiz conversam a respeito do problema sério da fome e a "teologia da panela". E para inspirar a consciência e a fala dos dois: a música "Pode Guardar as Panelas" de Paulinho da Viola.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ruah Podcast - Filmes - Harry Potter e as reliquias da Morte Parte II

O poder é alvo de muitas das buscas do ser humano. Ter uma varinha mágica ou uma divindade que resolva "meus problemas" é tudo o que queremos. Neste Podcast, André Luiz e Paulo Sanda, inspirados no último filme da série de Harry Potter, trabalham o tema do poder e sua sedução.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A UHE BELO MONTE ESTÁ SENDO IMPORTANTE PARA O BRASIL

Por estes dias estava conversando com um amigo, o quanto o politicamente correto por vezes enche o saco.
Os humoristas que o digam. Fazer piada está cada vez mais difícil.
Falávamos saudosistas de várias piadas, que hoje não são de bom tom.
Do quanto é irritante a regra inaugurada na época do ex-presidente Sarney:
“Brasileiros e brasileiras”.
E outras “baboseiras” mais.
Mas um ponto interessante nas conversas que tenho com este amigo, é que sempre caímos para o campo filosófico.
Começamos a analisar que, talvez este extremismo do politicamente correto, acabe também desembocando em reforço para os movimentos radicais no lado oposto. Skinheads, homofóbicos, machistas, etc.
Será que isto é positivo para a sociedade?
Mas por outro lado, a manutenção de um estado das coisas aparentemente moderado, morno, também pode levar a mazelas que passam despercebidas.
Como sou descendente de japoneses, dei o seguinte exemplo:
Os japoneses, são respeitados, como honestos, estudiosos, esforçados, etc.
Mas por outro lado somos o famosos “café com leite”.
Explico, quantos descendentes de japoneses tem destaque como artistas na televisão ou na música?
Pouquíssimos.
Somos tão “café com leite”, que sequer as piadas sobre japoneses são poucas. A pecha sobre o membro pequeno continua, mas nem trisca no politicamente correto, pois quase não são contadas, para a sociedade em geral não temos graça.
Por outro o racismo contra os negros, sempre foi grande, e seguindo a mesma linha de raciocínio, as piadas sempre foram muito mais engraçadas, os artistas mais reconhecidos.
E hoje temos medidas sendo tomadas contra a discriminação racial. Não pretendo julgar méritos, para dizer se são ou não corretas nem suficientes. Apenas que acontecem.
Ainda em relação aos negros, nos Estados Unidos, o racismo sempre foi mais violento. E agora temos um presidente negro.
A questão dos homossexuais é outra que está sendo discutida.
E é neste ponto que desejo chegar.
Melhor dizendo, com esta linha de raciocínio, cheguei a conclusão que a UHE Belo Monte, está sendo muito importante para nosso pais.
Pois ela deu na década de 70 visibilidade na discussão sobre os índios, e hoje traz o assunto de volta, permeado com mais, e importantes nuances.
A importância da preservação da floresta, a defesa dos povos indígenas, das comunidades ribeirinhas.
A conscientização de que a floresta é mais importante que os recursos minerais em seu subsolo.
A sacudida que estamos precisando, para ver que o sistema de poder político, econômico, e roda viva de consumo que vivemos é uma falácia.
Enfim, a discussão está aberta.
Eu e mais meia dúzia de gatos pingados (Carol, Thiago, Eli, Leda, Patrícia, Tati, Paola) começamos em São Paulo as manifestações contra Belo Monte, fizemos uma vaquinha para comprar um megafone, material para faixas, etc. Ficavamos horas a fio em frente ao MASP, falando e sendo objeto de chacota de alguns passantes. Mas hoje milhares de pessoas estão participando das manifestações que acontecem por todo Brasil.
Com disse, a discussão está aberta, só espero que não tenhamos que pagar muito caro por esta oportunidade de aprendizado.
No dia 17 de julho (domingo agora) haverá outra manifestação.
Se você é contra Belo Monte, venha, vamos fazer esta festa pela vida juntos.
Se é a favor, venha e vamos discutir o assunto, pois não há melhor caminho que o diálogo.







Apologia à dúvida

              Se tudo o que vemos e entendemos não passa de interpretação, podemos concluir que ter certezas não é muito inteligente.

                O entendimento que temos da realidade que nos cerca é produto de representação.

                Comecemos por Deus. Ninguém jamais viu a Deus, já dizia o evangelista João. Deus só pode ser concebido por meio de representação, de analogia, de comparação, de simbologia. É por isso tudo o que “sabemos” a respeito de Deus nada mais é do que o produto de nossa imaginação baseado em alguma experiência que chamamos pelo nome de Deus. O fato é que mesmo que não creiamos em nenhuma divindade, fatalmente estaremos optando por alguma crença, posto que também a não existência de Deus é improvável. Mas se concebemos algum Deus teremos de lançar mão de um modelo que nos sirva de comparação. Os cristãos fizeram a opção por Jesus, como símbolo (representação) de Deus. As religiões afro-brasileiras têm seu panteão de divindades, os orixás, e tem por Deus o Pai Olorum. Os mulçumanos tem Alá. Os hinduístas tem Shiva e centenas de outras divindades. Logo, uma convicção absoluta de Deus é idiotice e uma convicção absoluta de não-Deus também é imbecilidade. Tudo não passa de um caminho escolhido, de uma escolha de crença.

                Crença não é convicção, não é certeza. Acreditar é dar crédito a. Como numa operação financeira em que o banco ao emprestar dinheiro ao seu cliente está lhe concedendo um crédito.
                Mesmo a matemática, embora lide com resultados exatos é formada por representação. Os números nada mais são que representação do que chamamos de quantidade. A representação faz parte de qualquer aspecto da vida humana. Representamos sons e comunicação pela linguagem. Representamos a vida nas manifestações artísticas.  Shopenhauer já falava do mundo como vontade de representação.  Não há problema em representar, em simbolizar, em imaginar. O problema está em nossa convicção sobre a nossa representação. A certeza de nossa interpretação é perigosa porque nos cega para o fato de outros possuem interpretações diferentes e também legítimas

                A meu ver, toda ortodoxia e dogmatização fundamentalistas são barreiras para um pensamento inteligente. Portanto, eu sugiro que toda convicção e certeza seja questionada.

                Algumas áreas onde nossa percepção de realidade dogmatizada e que precisamos reconsiderar apenas como percepções e não como a verdade última:

-  Religião. Há milhares. Não pode ser possível que apenas uma seja a correta. Cada um faz a sua opção por um caminho.

-  Moral. Certo e errado mudam conforme localização geográfica, cultura, tempo, contexto, etc.

- Ética. É preciso entender a ética dentro do contexto da situação. Afinal, se diz que até bandido tem sua “ética”.

- Família. O modelo familiar mudou, hoje temos uma pluralidade de modelos com os casais homoafetivos, os divorciados, filhos adotados, etc.

                Enfim, todas as áreas da vida humana estão marcadas pela representação e por isso podem ser repensadas e não precisam ser absolutizadas. É nossa necessidade de dar sentido que faz com que nos apegamos a convicções sobre modelos e sistemas que nada mais são do que a maneira como queremos significar as coisas pra nós. Ou seja, queremos que a vida e o mundo façam sentido.

                O caminho da maturidade a meu ver percorre pela percepção do fato de que não sabemos o sentido ou se a vida tem algum sentido. E nesse caso, ou convivemos com esse vazio de sentido, ou damos um sentido para ela, ou ainda optamos por um caminho que poderá ser o de alguma religião ou crença. Fato é que, quer optemos por um caminho de ter sentido ou não ter sentido conviveremos com a dúvida se encontramos a verdade ou não. Portanto a resposta adequada a como conviver com isso, é a humildade no sentido de “eu não sei o sentido da vida, mas a minha opção é essa tal e tal”. E a opção de outro ser humano deverá ser respeitada. Essa opção trilhará pelo caminho da esperança e da fé. Em outras palavras, podemos dizer que todo ser humano é provido de fé, de esperança. Podemos então concluir que ter fé e esperança é humano, ter convicções e certezas é infantilidade.

Porém respeitar a opinião ou o caminho do outro quanto ao sentido, não quer dizer que não possamos fazer questionamentos. Repito o caminho da maturidade não é ter certeza, mas é justamente a dúvida e a consciência de que o significado escolhido é apenas mais “um” e que, portanto sempre poderá ser desconstruído e novos significados poderão ser construídos. Parece loucura, para alguns. E talvez eu deva dizer que nem todos suportarão esse tipo de pensamento e vão se trancar nos seus próprios significados. Já dizia Sócrates: “Só sei que nada sei."
Autor: André Luiz é estudante de Teologia e pós-graduando em Filosofia. É também palestrante da Ruah.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Admirável Gado Novo

Zé Ramalho, cantor nordestino do Brasil, compôs a música Admirável Gado Novo certamente num trocadilho com o título da obra de Aldous Huxley "Admirável Mundo Novo". Neste novo Podcast da Ruah, Paulo Sanda e André Luiz dialogam a respeito de liberdade, injustiça, desigualdade social, temáticas tão presentes na letra dessa canção.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ruah Podcast - Músicas - Pra você

O Sertanejo Universitário é a nova onda da música no Brasil e a belíssima cantora Paula Fernandes é de um seus destaques. Neste novo Podcast Paulo Sanda e André Luiz discutem a temática da alteridade presente na música "Pra você" composta pela artista e Zezé Di Camargo.


Sacrifícios Humanos




Anos atrás nosso então presidente topetudo, Itamar Franco ficou feliz por derrubar a bolsa de valores.
“Nós vencemos eles”.
Nosso querido ex-presidente foi bastante polêmico, e nos brindou com muitas frases e flagrantes.
Na época eu como quase economista, ex operador de pregão Bovespa e BM&F, achei um absurdo a afirmação dele.
Afinal, ele estava se congratulando por afundar o pais!
Afinal o mercado financeiro é uma forma das empresas conseguirem capital de risco para realizar investimentos produtivos, gerando emprego e divisas para a nação.
Desculpe Itamar, eu estava errado e você certo.
Já venho a algum tempo desconstruindo minha ideia sobre a nossa sociedade baseada no capital, mas ontem vendo os protestos da Grécia, que passa por uma profunda crise, com alto desemprego e falta de perspectivas para o povo.
O governo grego na última década levou as despesas públicas as alturas, e praticamente dobrou o salário do funcionalismo. Agora o pais tem dificuldades para pagar suas dívidas e o parlamento vai aprovar um pacote de austeridade que vai congelar o salário dos servidores públicos, aumentar impostos, o preço da gasolina e elevar a idade mínima da aposentadoria. Este pacote vai impactar diretamente a vida de todo povo grego. É assim, uns se privilegiam e todos pagam a conta.
O capital tem que ser preservado, pois é o ente máximo de nossa sociedade.
O povo grego vai pagar o pato, para que o capital não seja prejudicado.
É algo surreal, pessoas serão sacrificadas no altar.
É verdade, o altar!
Vejam, bastou o parlamento grego acenar com possibilidade de aprovação deste pacote de austeridade econômica que as bolsa entraram em festa pelo mundo todo. São verdadeiros templos do capital. E em nome deste deus, realizamos estes verdadeiros sacrifícios humanos.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Novidade , velha.

Amigos, acabamos dando uma mancada.
Colocamos nosso primeiro podcast no ar na página de Podcast, mas esquecemos de inserir o Post sobre a novidade!

Feita a mea-culpa.
Veja o primeiro podcast, onde comentamos o filme Tropa de Elite II, a importante mensagem que ele nos passa.

Faça seus comentários e indique outros temas que você gostaria que fossem abordados!


quinta-feira, 16 de junho de 2011

Pensamento sistêmico ou holístico II - Diálogo

Percebi que nas últimas semanas o meu artigo sobre pensamento holístico foi bastante acessado. Então resolvi escrever um pouco mais sobre o tema. Pensei que talvez eu pudesse fazer alguma aplicação prática daquilo que foi dito ali ou ampliar um pouco mais o conceito.
Mas antes, que tal, se ao invés de falarmos em pensamento sistêmico pudéssemos trocar para orgânico. Sim, porque quando falamos em sistema, nos dá a impressão de algo engessado, pre-formatado e que não pode ser alterado. Orgânico é diferente. Orgânico nos traz a idéia de elementos que agem e interagem entre si, mas que podem ser modificados para que os objetivos sejam cumpridos. Mas como orgânico também tem muito haver com a vida no sentido biológico, nos faz pensar no objetivo maior que é a vida.
Então, puxando um pouco mais para o foco da Ruah, que é trabalhar com valores que possam agregar para a vida das pessoas em suas comunidades de trabalho. Convido vocês a refletir comigo de que forma o pensamento orgânico nos ajuda a alguma questão prática.
Pensando sobre como o diálogo é um valor de muita importância para equipes que querem produzir algo que agregue para as pessoas e, por conseguinte, para sua comunidade, vamos tentar perceber como o diálogo é atitude preponderante daquele que tem pensamento orgânico ou sistêmico.
A primeira lição que devemos aprender, é que todo bom diálogo começa com a atitude e a boa vontade para ouvir. Sim, pois aquele que deseja apenas falar, faz monólogo. O escritor Rubem Alves escreveu um texto onde ele diz que deveria haver um curso de "escutatória", porque os cursos de oratória existem aos montes, mas o nosso grande problema não é saber falar, e sim, saber ouvir. Pode perceber, que sempre quando vamos conversar com alguém, não queremos ouvir suas idéias e sim colocar as nossas. E mesmo quando nos dispomos a ouvir o outro, já vamos interpretando e oferecendo nossa hermenêutica ao nosso interlocutor. Que tal se apenas ouvíssimos?
A segunda lição decorre da primeira e diz respeito ao fato de quando primeiro ouvimos o outro até o fim o que ele tem para dizer, aí sim temos a opção de escolher. Ou seja, ouvir é ser livre para fazer uma escolha, é ter de fato escolhas para fazer.
Outra lição que o diálogo nos traz, é que ouvir o outro nos desafia a repensar nossa própria opnião e ai então construirmos algo novo.
Perceba que o pensamento orgânico considera não apenas as suas próprias idéias mas também as dos outros e isto é enriquecedor. Quando for desenvolver um trabalho em equipe, comece a praticar o diálogo e você verá o quanto seu trabalho será enriquecido e o quanto as pessoas se sentirão valorizadas por participar de verdade contribuindo e recebendo contribuições. Num organismo, todos os "órgãos" são importantes e um só deles que seja, faz falta.

André Luiz Alves da Silva
Palestrante da Ruah, teólogo e pós-graduando em Filosofia

sábado, 21 de maio de 2011

Na hora da festa fiquei de fora!

Paulo Sanda


Puxa vida!
Vou lá com meia dúzia de gatos pingados, nos esfalfamos, ficamos roucos de gritar em várias manifestações seguidas.
Quando finalmente pinta uma galera legal, quando tem dança indígena, participação de “caciques”, eu não posso ir!
Fui convidado, não posso reclamar disto.
O problema é que esta vida de idealista  faz a gente passar por umas situações um pouco difíceis. Havia passado a semana toda com cinco reais no bolso, nem dinheiro para fazer o mercado, quando mais condução para ir à manifestação.
Pois é, faz parte da vida. Mas quer saber de uma coisa. É maravilhoso!
É lindo saber que apesar de eu não poder ter estado lá, as coisas aconteceram.
É edificante ver que os ideais podem contaminar as pessoas.
É recompensador, ouvir que a vida está lutando e continua lá, brotando em muitos corações.
Da mesma forma, dá esperança.
A esperança, que apesar de a humanidade hoje ainda ser predadora da própria humanidade e da natureza, existe um sopro, uma possibilidade das coisas mudarem.
Que conseguimos nos desgarrar de nosso egoismo materialista, para pensar no futuro.
No futuro de todos e do planeta.
Acredito que há esperança, que se por um lado, o “mal” faz parte da natureza humana, no exercício de nosso egoismo e mesquinhez, por outro, o “bem” também luta dentro desta mesma natureza, na forma do amor e da abnegação. Que podemos transcender a esta sociedade egoísta, que só consegue pensar em consumir e consumir, para uma humanidade que deseja amar.
Bom, você deve estar pensando, que eu afoguei minhas mágoas numa garrafa de cachaça e devo estar bêbado e apaixonado para escrever tanta besteira.
Olha eu gosto sim de uma cachacinha, não vou negar. Mas não é este o caso.
Se você olhar para a história da humanidade, verá que, estamos caminhando.
Não é a primeira vez que eu digo isto, mas vale lembrar. Só que desta vez vamos colocar um enfoque diferente, quem quiser ver outros, leia na crônica anterior, “Esperando por uma condenação histórica”.
Cinquenta anos atrás ou menos, uma mulher solteira grávida era um escândalo! A família fazia tudo para encobrir.
Hoje as mulheres são independentes (ou quase) e muitas simplesmente decidem ter um filho sozinhas.
Os homossexuais, eram uma aberração, tinham que se “esconder no armário”. Hoje a união homo afetiva é uma realidade aceita pela lei, os direitos dos casais homossexuais é reconhecido. E não somente pelo estado, mas até uma igreja endossou este reconhecimento. A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, na figura de seu bispo primaz Dom Maurício.
Mais presente ainda. A partir do próximo ano as sacolinhas plásticas usadas para colocar compras no comércio serão coisa do passado em São Paulo.
Temos muito pela frente para construir uma sociedade justa e sustentável, mas, passo a passo, estamos no caminho. Caímos, tropeçamos, mas continuaremos a jornada.
Da mesma forma que eu não puder ver a bela festa que foi a manifestação contra Belo Monte na av. Paulista no último dia 20 de maio, também acredito que não estaremos vivos quando esta construção humana chegar a sua plenitude. Mas fico feliz de poder ter palmilhado um pequeno trecho desta estrada.
Não desanimemos, a batalha é dura e, às vezes pode parecer inglória.
Mas vale a pena.
Parabéns a todos que estiveram lá. Parabéns a todos que se juntarão à nós daqui para frente.
Nunca é tarde.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Esperando por uma condenação histórica.

                Um dia numa aula de teologia da missão urbana.
                A aula ia bem, o professor desenvolvia o tema sobre os paradigmas da civilização ocidental. Comentou sobre os abusos realizados por grandes reformadores, contudo aplicava a contraposição de idéias (dialética), não que isto seja de alguma forma justificativa, mas o uso do poder e da violência por parte destes, era nada menos do que o resultado da interpretação que eles podiam fazer do mundo com os paradigmas que tinham até então.

Hoje é inaceitável pensar nos horrores que foram realizados em nome de “deus” , as perseguições, cruzadas, inquisições, sim no plural pois elas não foram realizadas apenas pela igreja de Roma como se pensa costumeiramente, os reformadores também perseguiram e queimaram muitas pessoas.
 E apesar de terrível, não é tão simples assim condená-los, não podemos olhar a história de forma tão simples. É preciso entender  os paradigmas que formavam a cosmovisão daquela época.
                Quando um aluno interferiu dizendo que independente de qualquer fator a despeito das informações que dispunham as pessoas da época, o principio moral do valor da vida é único e nunca mudou.
                Perdi a paciência, como alguém que se pretende teólogo consegue ter tamanha dificuldade de abstração?
                Agora você deve estar pensando; “Este cara está variando! É lógico que o colega dele está certo.” Exatamente neste ponto que eu quero chegar. Mas vamos caminhar mais um pouquinho no tema.
                Hoje é impensável pensar em escravidão, ela ainda existe, mas não é aceita pela sociedade. Mas a dois mil anos atrás era corriqueira. Uma pessoa se tornava escrava pelas mais variadas razões. Seu povo perdeu uma guerra, você virava escravo. Não podia pagar uma dívida, virava escravo. Os pais o vendiam,  virava escravo. E assim por diante. Era lógico, normal, comum, não havia escândalo algum. Mil anos a frente, as práticas escravagistas mudaram um pouco seu foco. Escravizar pessoas de sua própria “cor” não era certo. Mas negros e índios; sem problema algum. Mais algumas centenas de anos em plena revolução industrial, mão de obra escrava já não era bem vista, mas fazer operários trabalharem de forma desumana, sem nenhum direito trabalhista; operários incluíam homens, mulheres e crianças; tudo bem. A coisa era tão bem aceita, que qualquer manifestação contrária como no protesto organizado pelas operárias de uma tecelagem, seria punida da forma que bem entendessem os donos do poder. Neste caso específico prenderam as mulheres dentro da fábrica e atearam fogo. Qualquer relação com as fogueiras da inquisição deve ser mera coincidência. Mas este caso específico hoje é lembrado e a memória destas pessoas homenageada no dia internacional da mulher.
                Da mesma forma a humanidade vem se estruturando de tal forma que não aceita mais tais práticas. Hoje debate-se o preconceito, racial, social, sexual, etc. Na questão sexual, não somente de gênero mas também de opções. Mas nem sempre foi assim.
                Isto tudo nos faz pensar que somos donos de uma moral suprema. Que os valores humanos e humanísticos estão plenamente desenvolvidos.
                Graças a Deus estamos totalmente enganados!
                Se isto fosse verdade então a humanidade estaria fadada ao fracasso.
                Um dos milhares de exemplos de situações controversas que hoje vivemos é a seguinte:
                Você usa energia elétrica? Eu uso e muita, digo muita pois todo mês tenho dificuldade para pagar as contas. Mas deveria dizer muita por outros motivos.
                De onde vem esta energia? Com os recentes acontecimentos no Japão a geração nuclear está na berlinda. Ao pensar em  termoelétricas, logo associamos a emissão de carbono e ao efeito estufa. Sobram as hidroelétricas! Que maravilha, então o Brasil tem o melhor  modelo de geração elétrica, uma vez que apesar de termos usinas nucleares e térmicas, a predominância de nossa matriz é de origem hídrica. Podemos dormir tranqüilos.
                Caro amigo, estamos totalmente enganados. As usinas hidroelétricas são tão desumanas quanto as nucleares e térmicas. Geram gás carbônico e metano, por causa do apodrecimento da matéria orgânica no fundo de seus reservatórios. Devastam quilômetros e quilômetros de florestas, tem alto impacto em todo o processo ambiental nas regiões que são instaladas. Deslocam pessoas de suas regiões de origem e degradam suas vidas. Não fosse assim não haveriam movimentos como o das pessoas atingidas por barragens. Levam ao extermínio da cultura e da dignidade de povos indígenas.
                Mas que importa? O que vale é que no final das contas podemos tomar nosso banho quentinho em um chuveiro elétrico, nos refrescar no ar condicionado, ler este texto na internet, etc.
                Por isto eu espero que em um futuro que, tomara, não seja muito distante nossos descendentes nos olhem e digam.
                Como eram bárbaras e selvagens as pessoas até o início do século XXI.

quarta-feira, 9 de março de 2011

O inferno existe, passei por lá ontem.

Por Paulo Sanda


Dentro da proposta do desenvolvimento integral do ser humano, nós da RUAH caminhamos por diversos ambientes. Nas empresas, em associações, hospitais, etc. Em palestras e projetos colaborando na desconstrução e nova construção de relação de valores, na busca de uma relação sadia e descobrimento do prazer e da importância dos relacionamentos. Em projetos sociais, articulando parcerias, desenvolvendo consultoria administrativa, tecnológica e também procurando alavancar investimentos.
Durante esta caminhada, somos presenteados com “vidas restauradas”, desculpem as aspas, mas o uso do bordão religioso é somente para efeito ilustrativo. Mas para exemplificar melhor, vão abaixo algumas frases que ouvimos após a realização de algumas palestras.
“Depois da palestra o relacionamento dentro da empresa mudou totalmente. O tratamento entre as pessoas agora é muito melhor”.
“Eu me identifiquei muito com a palestra”.
“Comecei a rever meus valores, principalmente em relação a minha família”.
“Você não sabe como as coisas se transformaram aqui na empresa”.
Entre outros “testemunhos” que tenho que puxar da memória, pois não tive o cuidado de documentar. Lógico, também ouvimos:
“Não tem nada a ver”.
“Não gostei”.
“Perdi meu tempo”.
Afinal como disse nosso querido anjo pornográfico, Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”.
Feito este breve merchandising, vamos ao que interessa. Em nossa atuação por diversas associações que desenvolvem ações sociais, temos visitado trabalhos sérios realizados com carinho e dedicação. Com profissionalismo também, mas este se não acompanhado do amor, corre o risco de se tornar frio em impessoal.
Perambulamos entre ONGs que desenvolvem trabalhos magistrais e dão certo, pois realizam intervenções que vão além do simples assistencialismo, olhando o atendimento para as pessoas, como parte de um todo. Uma razão complexa não sujeita a generalizações.
Nos deparamos com projetos puramente assistencialistas, onde algumas pessoas buscam um simples analgésico para suas consciências.
Também encontramos projetos bons, com muita boa vontade mas pouco senso prático ou talvez administrativo. Isto muitas vezes os leva a terríveis rombos financeiros.
Em todos estes casos, procuramos sempre colaborar para que o que está dando certo possa ser ampliado e replicado, e o que não está dando tão certo tenha como ser aproveitado e até reconstruído.
Mas o pior estava por vir.
Já havíamos ouvido falar em projetos e instituições que começaram bem, mas no decorrer de sua existência acabaram se corrompendo, seja pela busca pelo status ou até mesmo pela apropriação de fundos por pessoas inescrupulosas.
Mas por estes dias presenciamos o nascimento de um pseudo projeto social, cujo fim é totalmente diverso do que se poderia esperar. Não pretendo entrar aqui no ramo da fofoca ou do sensacionalismo, por isto vamos nos ater à análise dos planos. Contudo antes de entrar nesta análise, tenho que dizer que raio eu estava fazendo lá.
Fomos indicados para estas pessoas, para buscar fundos para investimento na RUAH, vivemos de palestras e também de doações. Digamos que como palestrantes somos grandes pedintes. Ou talvez como pedintes sejamos bons palestrantes. Quem já leu o Vendedor de Sonhos de Augusto Cury saberá do que estou falando.
Fomos então convidados para participar de uma reunião pois este grupo de pessoas, empresários e pretensos religiosos iriam iniciar uma obra social.
Feito este parêntese, vamos a conversa e análise dos argumentos.
“Em prédio de X andares estaremos realizando atendimento médico para o povão”.
“Pediátrico, pois o que as mães ficam mais desesperadas por isto”.
“Ginecológico pois as mulheres procuram”.
“Clinico geral”.
Do que foi dito até agora;
O interesse em dar atendimento pediátrico é porque as mães se desesperam, não porque foi realizado uma pesquisa na área e foi identificada esta carência. Concordo que infelizmente há carência em todas as áreas, mas um trabalho para ser sério, precisa ser pensado. Se visamos uma determinada região temos que conhecer as estruturas existentes e propor ações que interajam com ela a fim de suprir as faltas, buscando o melhor resultado.
“Vamos contar com médicos voluntários, no início teremos alguns mas o salário não é alto, coisa de mil e poucos reais”.
Um olhar sobre a utilização gratuita do trabalho de outras pessoas e a pouca valorização do mesmo.
“O povão vai formar fila!”
“Nós vamos filmar tudo e usar”.
Bom até agora era preciso fazer um esforço para analisar se o trabalho era ou não sincero, a partir deste ponto o que temos é o seguinte;
Estas pessoas definitivamente não estão interessadas em um atendimento bom e humano para as pessoas. Querem ver formar fila. Tudo parte de um grande plano de auto-promoção.
Os diálogos após esta frase não são mais necessários.
Agora provavelmente você deve estar se perguntando; para que ele escreveu este artigo?
Para que fiquemos atentos aos projetos sociais aos quais fazemos doações?
Que analisemos nossas intenções?
Denunciar uma pretensa obra social?
Sinceramente, se você chegou a alguma destas conclusões ou outra qualquer. Ótimo.
De minha parte é apenas um desabafo.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O trabalho social que dá certo.

“Eu não vejo a hora de vir trabalhar, adoro tudo isto”.
Isto não é parte de um diálogo entre um chefe e seu funcionário, ou um empregado recém-contratado.
Simone trabalha na Vivenda da Criança. Dá para entender por que.
Aos 50 anos de idade, a irmã Yvone Venditti, freira da congregação das irmãs Felicianas de Curitiba veio a São Paulo com um sonho. Tirar crianças da rua, salvando-as das drogas e da violência.
Com ajuda de muitos amigos, ela conseguiu comprar um terreno em Parelheiros, uma região com classificação de altíssimo risco social. Inicialmente ela com a ajuda de uma assistente, cuidavam de 12 meninos. Levava para escola, dava comida, cuidava da casa, reforço escolar, pagava contas, direcionamento e conceitos morais, enfim tornou-se uma mãe tanto para as crianças como para suas famílias. O trabalho que começou para cuidar de 12 crianças abandonadas, hoje abrange um universo de mais de 4 mil pessoas!
Mas o grande sucesso desta obra, é que ela envolve a criança por todos os lados. Procura dar condições de alimentação, educação e lazer para as crianças, capacitação profissional para os jovens e para os pais e ainda se envolve no ambiente familiar.
Enquanto as crianças ficam na Vivenda no período em que não estão na escola, elas tem alimentação, lazer, auxílio nos estudos, atividades lúdicas e muito carinho. No outro lado, jovens , pais e mães, frequentam cursos profissionalizantes como padeiro, manicure, cabeleireiro, costura e muito mais. Os jovens são encaminhados para empresas através de convênios como o jovem aprendiz. Mas nem só de pão vive o homem, então eles tem oficinas de música e outras atividades culturais.
Tudo isto ocorre dentro dos limites físicos da Vivenda, mas não para ai. Oito agentes vão a campo visitar as famílias, as condições de suas casas. Condições físicas e estruturais, de higiene, hábitos e também emocionais, violência doméstica, alcoolismo, etc. E lutam em todas estas frentes.
Cada agente cuida de 150 famílias!
E apesar de conviverem com um ambiente de muito trabalho e dramas humanos, onde derramam-se muitas lágrimas todos os dias, o lugar é alegre, as pessoas são felizes.
Devido ao trabalho que desenvolvemos, vivenciamos muitos dramas diariamente. Jovens que estavam sendo atendidos e foram assassinados, mulheres que mesmo sendo espancadas por seus maridos não tem outra escolha, pois vivem em um mundo séculos atrasado, crianças abusadas por padrastos, pais, tios, etc. Instituições que realizam apenas um trabalho pontual e esquecem do redor, do ambiente em que as crianças e os jovens vivem.
E visitar lugares assim são um verdadeiro refrigério para alma.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Minoria Esmadora

De uns tempos para cá aderi de corpo e alma no combate ao mega-projeto Usina hidroelétrica de Belo Monte. Não é minha intenção fazer apologia ao movimento neste artigo, mas também não posso deixar de citar meu ponto de vista em relação a isto, até porque esta questão e seus acontecimentos tem me levado a profundas reflexões.
Em um recente debate promovido pela nossa querida Mirian Leitão, dois especialistas se digladiaram. Mas debateram do ponto de vista econômico.
A questão é:
Quanto vale a vida?
Eu tenho filhos, e não os venderia por nenhum dinheiro deste mundo.
Como também não vendo o futuro deles, sou contra Belo Monte.
Mas vamos voltar alguns dias. No dia 4 de fevereiro de 2011, marcamos a primeira manifestação nacional contra Belo Monte. Bem da verdade acho que quem começou com esta história talvez tenha sido eu. Bom talvez.
O fato é que eu e o André fomos juntos ao local da manifestação em São Paulo, na avenida JK. No caminho ele me perguntou quantas pessoas estariam lá. Ao que respondi que se estivessem meia dúzia me daria por satisfeito.
Chegamos lá e nada, ninguém. Cada pessoa que ia chegando de preto ficávamos encarrando para ver se fazia parte da manifestação, nada. Mais alguns minutos foram chegando algumas pessoas. Gabriela, Carol e seu marido (desculpa cara, não me lembro do seu nome), Lara e Yuri, Verônica, Patricia, Gustavo (não se se este conta estava a trabalho hehehe, conta sim estou brincando) e o fotógrafo, ambos do Jornal Estado de São Paulo e outros (novamente desculpe pena falta de memória para nomes, mas tenham certeza meu coração não há de esquece-los).
Enfim nos juntamos a porta do Financial Center, ao que o segurança passou um aviso pelo rádio na hora. Conversamos, trocamos idéias, às vezes uma pequena frustração por sermos tão poucos. Mas no fim das contas formamos uma "minoriaesmagADORA".
Pudemos nos nutrir espiritualmente uns dos outros. Ninguém desanimou, muito pelo contrário ficamos mais motivados para continuar a luta.
Era neste ponto que eu queria chegar.
Apesar de poucos pudemos nos "nutrir espiritualmente" uns dos outros.
Neste comensalidade de alimentarmos nossos sonhos mutuamente nos tornamos realmente uma MINORIA ESMAGADORA. Não sabemos se vamos ou não realizar nosso intento de salvar a floresta amazônica, mas nossa humanidade com certeza já está salva.
Quer salvar a sua?

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

PENSAMENTO SISTÊMICO OU HOLÍSTICO

Pensamento sistêmico é pensar no todo e não apenas na parte. É ter visão panorâmica.
Quem tem pensamento sistêmico não generaliza, mas considera cada caso. Olha o processo e não parte dele.
Quem tem pensamento sistêmico olha para o presente, passado e futuro.
É pensar de forma não linear. É não pensar apenas no aqui e agora, mas nas conseqüências, nos resultados e nas razões.
É não agir sempre por impulso, pela paixão e pela emoção. Mas também não é agir só pela razão. É agir com razão e paixão.
É não pensar apenas no “próprio nariz”, mas considerar os outros, todos os outros e a si mesmo.
É não se esquecer que não se está sozinho no mundo.
Algumas situações onde costumeiramente se deixa de pensar de forma sistêmica:
- Os criminosos. Só se olha o crime e não as situações psicológicas e sociais que levaram o indivíduo a cometer o crime. A conseqüência é o desprezo pelos direitos humanos dos presos, a aceitação de pena de morte como sendo solução para o problema da criminalidade. São soluções de idéias reduzidas e simplórias, para se livrar do problema. Um pensamento sistêmico estabelecerá projetos de educação, combate a pobreza, consciência social, trabalho de recuperação, tratamento psicológico, etc.
- Transporte clandestino. Uma reportagem na Rede Record mostrou que há um grande número de ônibus clandestinos fazendo viagens pelas estradas do Brasil por tarifas mais baratas. A opinião dos jornalistas, foi simplista e linear, pois disseram simplesmente que a solução seria fiscalizar e prender os responsáveis. Ora, deve-se perguntar porque pessoas compram essas passagens mais baratas? Porque esses motoristas trabalham dessa forma esses ônibus em péssimas condições? Existem outras alternativas. Perceba que quando fazemos perguntas do tipo “por quê”, ou seja quando procuramos as reais razões, estamos pensando de forma sistêmica ou holística, ou seja procurando cobrir todos os lados antes de oferecer um julgamento e respostas simplistas.
- Maridos e Esposas. Se cônjuges pensassem de forma sistêmica, as brigas poderiam ser evitadas. Pois normalmente nessas horas, cada um só olha o seu próprio pedaço e tenta defendê-lo com unhas e dentes sem pensar na situação do outro. Já percebemos por aqui que pensar de forma sistêmica não é tão fácil, faz a gente entrar em conflito consigo mesmo. Nossa natureza parece sempre tender mais ao egocentrismo.
                Na empresa, precisamos começar a pensar de forma sistêmica:
- Departamentalização. A cultura de “bairrismo” impera em muitos setores. Pessoal do comercial não se atenta para as questões fiscais. Não olha o todo: empresa-cliente-governo-o povo-imagem-colega da área fiscal-família do colega-etc.
- Defender o meu “cargo”. Estamos tão afoitos em defender o próprio cargo que nos esquecemos da razão pela qual nosso trabalho existe como parte do um todo da companhia, que no final das contas precisa atingir seus objetivos, que por sua vez contribui para todos os colaboradores atingir os seus objetivos.
- Lucro acima de tudo. Ter lucro acima de tudo, sem pensar no funcionário que é explorado, sem pensar no meio ambiente que pode estar sendo prejudicado, sem pensar no todo.
                Você já ouviu falar do “Efeito Borboleta”? Tudo o que você faz tem efeitos mundiais.
                Já vimos que não é fácil pensar sistemicamente ou holisticamente. Então o desafio é grande. O programa de espiritualidade na empresa é essa alternativa de pensar sistemicamente procurando minimizar nas relações que temos com o mundo, com os outros e conosco mesmos, os impactos de nossa desvairada ação e pensamento linear.
                Um outro risco que mencionamos apenas, referente a falta de um pensamento holístico são as famosas generalizações, que na verdade não passa de reducionismo, ser simplório. Frases do tipo: Padre é tudo pedófilo, Pastor é tudo ladrão, carioca é tudo metido, praia é tudo igual, político é tudo ladrão, etc. Mesmo que as vezes isso pareça ser verdade, é um engano da mente. Pois deixa de enxergar os que apesar de serem da mesma profissão ou de uma certa classe, deixa-se de considerar as particularidades. Então olhar o todo, é olhar também todas as partes possíveis. Daí a necessidade que temos do complexo ao invés do simplório. Veja não estou falando de simplicidade no sentido de humildade ou de viver de forma simples. Falo sobre a necessidade de se considerar toda a complexidade da vida e do universo, e isso também em todas as áreas da vida humana, inclusive numa empresa.
“Na linguagem cotidiana , uma situação complexa soa como confusa e difícil de resolver. Evoca uma realidade cheia de dobras, nas quais escondem variáveis difíceis de serem compreendidas. Confunde-se complexidade com complicação, algo que não é fácil de explicar nem de resolver.” (AFONSO MURAD – GESTÃO E ESPIRITUALIDADE – EDITORA PAULINAS – PG.178)
                Murad também explica a etimologia da palavra “complexo” que origina-se do latim “complectere”. A raiz “plectere” significa trançar, enlaçar. Remonta ao trabalho de fazer cestas. O sufixo “com” acrescenta o sentido de dualidade dois elementos opostos que se enlaçam intimamente. Ou seja o pensamento complexo lida com conflitos, com o diferente. Ainda, o perplexo, “per” significa levar ao extremo algum coisa, por exemplo “perfeição”,  não dá conta de lidar com as diferenças. Ele permanece “enrolado” nas complexidades. Pensar de maneira sistêmica é lidar com as complexidades, é ter pensamento complexo.
                No ambiente de trabalho é preciso lidar com dimensões completas, inclusive de nossa humanidade. Lidar com nosso lado material e lidar com o nosso lado espiritual. Lidar com os valores da empresa e lidar com os nossos valores pessoais. Lidar com os meus valores e lidar com os valores dos meus colegas. Lidar com os meus problemas do meu setor e com os problemas do outro setor. Lidar com coisas antagônicas. Lidar com questões econômicas e lidar com questões humanas ou espirituais. Se não nos dispomos a essa “lida” com a complexidade, fatalmente ficaremos perplexos e assim permaneceremos até por fim “morrermos”.
                Nesse sentido um grande problema do mundo pós-moderno é que ele tornou-se tão complexo, tão abarrotado de informações, que o que temos hoje são os especialistas. As escolas formam especialistas, mas não formam um ser humano integral. De fato, será necessário nos concentrarmos em uma especialidade para não nos perdermos nas infinitas opções e especialidades que existem. Faça uma busca no Google de qualquer tema e você terá uma infinidade de sites, blogs sobre o tema. Entretanto, mesmo tendo que ser especialistas não podemos perder a noção do todo, no mínimo em saber que existem visões diferentes sobre o mesmo assunto ou problema.
                Podemos então concluir que ter um pensamento holístico ou sistêmico é não perder de vista os outros pontos de vista.

André Luiz

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Por um trabalho mais humano.

Por Paulo Sanda

Agora eu vou falar.
Se você assistiu aos vídeos sobre a fábrica de jeans na China, deve estar com um gosto amargo na boca. Com certeza, há muito a se discutir sobre este assunto. Podemos criar páginas e mais páginas, livros, etc. Mas vamos por outro caminho, por enquanto.
Convoco sua imaginação agora para a seguinte cena:
Em um belo final de tarde, você sai a calçada, ou desce a área comum de seu condomínio, leva uma bebida (pode ser uma cerveja, um refrigerante, um chá enfim o que for) talvez algo para beliscar, senta-se com os vizinhos e fica conversando enquanto olham as crianças brincando. Nada de trabalho, falam sobre a vida, o tempo, contam piadas, etc. Ou quem sabe levar um violão e fazerem uma roda de músicas, recitar poemas, enfim um SARAU (para quem não sabe um evento cultural informal, as pessoas se encontram para se expressarem artisticamente).
E ai o que achou?
Talvez você tenha pensado:
Mas eu faço isto de vez em quando, pelo menos uma vez por semana.
Parabéns, você é um privilegiado, só posso dizer que, se inveja matasse eu estaria fulminado.
Mas provavelmente, deve estar achando que eu sou algum lunático:
Quem tem tempo para isto? Trabalho o dia todo, chego tarde em casa, começo a trabalhar no domingo a tarde e só para no sábado de manhã e olha lá!
Falar sobre o que? Nem conheço meu vizinho!
Não para por ai, tem muita gente que nem consegue se imaginar falando sobre outra coisa que não seja trabalho.
Pois é justamente neste ponto que eu quero tocar.
No documentário que assistimos (se não o fez, pare de ler agora e volte no meu post anterior para assistir), deve ter se revoltado com o dono da fábrica de jeans. A exploração dos funcionários, os argumentos que ele usa para se justificar e a falsidade de toda aquela estrutura que visa apenas uma coisa, dinheiro. E como bem disse o grupo Dire Straits, “money for nothing”.
Bom se ficamos revoltados com isto porque não nos revoltamos com nossa própria exploração?
Explico; em um recente artigo do jornal Folha de São Paulo (edição de 23/1/2011), Márcio Pochamann presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) diz que o descanso semanal médio que era de 48 horas baixou para 27 horas (você pode ler esta matéria na integra em http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=40165).
Sem querer entrar no mérito das razões pessoais de cada um, cabe aqui uma reflexão. Trabalhamos cada vez mais para dar conta de um desejo crescente por bens de consumo. Não adianta dizer que é para sobreviver, pois o que queremos é; manter ou subir nosso “padrão de vida”, traduzindo, manter ou aumentar nosso poder de consumo.
Nesta roda viva, escravizamos a nós mesmos, proporcionamos a exploração de outras pessoas, colaboramos ativamente na degradação de nosso planeta. Deixamos de ser humanos para sermos consumidores. Não vivemos para um projeto de vida, nossos objetivos são planos de consumo.
Não precisa concordar comigo, mas pense um pouco.
Durante este mês, quando tempo dedicou para sua família, seus amigos, trabalho voluntário, etc?
Quantas atividades de lazer sua não estão ligadas diretamente ao consumo? Ao invés de ir ao shopping center, fazer uma visita a um parente ou amigo, por exemplo.
Pensou?
Ok, vamos dar uma volta no shopping, estou de olho em um novo celular....

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Desta vez não quero dizer nada.

Parece lindo não?
Temos cada vez mais produtos de consumo ao nosso alcance. Mais e mais baratos.
Aliás estão tão baratos, que deviamos nos perguntar. Quem está pagando por eles?
Olhando a realidade retratada no documentário China Blue, podemos vislumbrar um pedacinho dos caminhos trilhados pelos nossos "sonhos" de consumo.
Você vai dizer,"mas um jeans não é meu sonho de consumo!"
Mas você acha que os outros produtos lá fabricados tem outra rota?
Temos que repensar nossa sociedade, nosso consumismo.
Não vou dizer nada por enquanto, por favor usem um tempo de suas vidas e assistam as 6 partes do documentário que coloco abaixo.




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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mundo Corporativo: Metas ou Pessoas?

     Essa semana estive em um banco para pagar uma conta. Ao terminar de efetuar o meu pagamento o rapaz do caixa me ofereceu um serviço do tipo seguro hospitalar. Muito superficialmente ele me apresentou o funcionamento do serviço, o valor e os benefícios. Solicitei para ele o folder, a fim de que pudesse olhar com calma em minha casa. Foi quando ele me disse que precisava muito bater as metas e tinha pressa quanto a minha adesão ao plano. Pensei comigo: acabou de me perder como cliente. Senti que o rapaz estava muito mais preocupado em bater suas tais metas, pois o banco assim exigia dele, do que me oferecer um serviço que de fato atendesse as minhas necessidades. Ele simplesmente não tinha tempo para gastar comigo enquanto cliente.
     Esse acontecimento corriqueiro me fez pensar em como o mundo corporativo vem procedendo. As metas tornam-se tão imperativas que já não se presta atenção no cliente e nas suas reais necessidades.
      Um grupo de escoteiros que tiveram como meta chegar ao cume de uma montanha. Alguns com muita pressa empurravam os outros que vagarosamente subiam e paravam vez por outra para observar as coisas ao redor do caminho. Havendo o grupo todo chegado em cima do monte, o chefe faz perguntas a respeito do que puderam observar durante o caminho e como aquela experiência com a natureza lhes afetara. Obviamente aqueles que prestaram mais atenção na natureza durante o caminho, foram mais capazes de responder e assim compartliharam as maravilhosas impressões e sensações com o contato que tiveram com as plantas, as sombras das árvores, o cantar dos pássaros com seus ninhos engenhosos, e com toda a natureza em volta daquele percurso que puderam apreciar. O chefe então relata que os que ganhariam as medalhas seriam estes e não aqueles que chegaram primeiro, pois o objetivo não era chegar primeiro e sim ter experiências durante o caminho.
      Que tal se o mundo corporativo mudasse a sua lógica de atingimento de metas, por uma em que as necessidades humanas dos clientes, que são seres humanos, fossem atendidas? Que tal se pudessem ensinar isso aos seus colaboradores, ao invés de pressioná-los? Que tal se pudessem abandonar, quando se tratar de ser humano, da lógica fria da economia e da matemática financeira? Será que todos não seriam enriquecidos com os relacionamentos que seriam feitos com os clientes? Qual pessoa não desejaria ser ouvida de fato sobre as suas reias necessidades? Não se poderia dessa forma oferecer um serviço muito mais interessante ao cliente, que de fato o atendesse?
     Um dos grandes problemas do mundo corporativo tem sido a perda da visão da dimensão humana, seja ela de seus colaboradores ou de seus clientes, em favor de uma busca desenfreada por lucro e crescimento. Quando isso ocorre, quantos de fato estão ganhando? Quantos de fato na sociedade são beneficiados? E ainda, o quanto de fato o empresário está cuidando da continuidade da vida de seus negócios. Criar um ambiente e uma filosofia de gestão humanizadora no mundo corporativo é o grande desafio de hoje. Do contrário, até onde perdurarão de fato as empresas, quando os clientes começarem a perceber que tudo o que a empresa quer é bater metas e não prestar serviços que de fato atendam as suas reais necessidades? Quando falamos de espiritualidade no ambiente de trabalho, falamos disso: de um modelo de gestão e relacionamentos corporativos capazes de enxergar clientes, parceiros, colegas, fornecedores como os verdadeiros seres humanos que são em toda a sua integralidade.
      Empresas que se preocupam com sua imagem na sociedade já estão avançando nesta direção. Muitos clientes, por exemplo já verificam antes de comprar algum produto se a dona daquela marca tem políticas de sustentabilidade, projetos sociais, etc. 
     Quando estiverem com um cliente na sua frente não o olharão apenas como aquele que o ajudará a bater metas, mas como alguém que de fato é seu próximo e tem necessidades. Ambos serão beneficiados: cliente e empresa. Todavia será necessário parar, prestar atenção, gastar tempo com ele, enriquecer-se da beleza e dos conhecimentos que todo bom relacionamento traz. Que empresas hoje estão dispostas a começar a mudar essa lógica dentro de seus ambientes e de sua gestão?

André Luiz - Palestrante da Associação Ruah
Desenvolvimento Integral do Ser Humano