Vivemos na chamada era pós-moderna. Esse é o tempo que caracteriza-se pela pluralidade e a conseqüente relativização. Diferenciamos do modernismo onde a crença era a de que a verdade poderia ser encontrada unicamente através da ciência. Porém nesse novo tempo o que se propõe é que não existe uma só verdade, mas sim várias maneiras de interpretar o mundo em que vivemos. O pós-modernismo não precisa ser encarado como um mero ceticismo a respeito de tudo, mas pode ser visto positivamente como a maneira de entender as outras maneiras de ver o mundo. O que já não cabe mais nessa era são os ortodoxismos e dogmatismos engessados das velhas instituições religiosas, científicas, filosóficas, políticas, etc. Entretanto, isso não quer dizer que a ortodoxia precise ser jogada fora, mas pode ser humildemente encarada como mais uma das muitas possíveis interpretações de um mundo e humanidade tão complexos. A tradição terá sua validade sempre que estiver em constante diálogo com outras tradições e aberta a reconstrução e re-significação.
É pensando nisso, que eu tenho chegado a conclusão que uma concepção de espiritualidade precisa estar em conexão com esse novo tempo da humanidade. Este, também chamado de “era da informação”, não é mais o tempo de conhecimentos e pessoas isoladas. Quer queiramos ou não, não estamos sozinhos, além de toda a tecnologia que nos conecta ao mundo inteiro, temos em nossas mãos todo legado de conhecimento como a história, a filosofia, a ciência, a sociologia, a religião, etc. que não nos deixa margem para pensarmos isoladamente. Mas com todo esse acúmulo de saber herdado somada a inescapável conexão com o mundo, com os outros povos, com o diferente; ficamos obrigados a reformular toda nossa vivência a partir dessa perspectiva globalizada e interdisciplinar. Isto não quer dizer que temos que nos tornar em seres despersonalizados, padronizados sem nenhuma identidade própria que nos diferencie. Apesar de tudo isso nos levar a considerar nossas igualdades e diminuir o conflito das nossas diferenças, entendo que podemos e devemos sim manter nossas singularidades, entretanto o que já não é mais possível é termos atitudes de intolerância para com as singularidades dos demais. Neste caso, o diálogo deverá ser o mecanismo mediador que protege a identidade, mas que ao mesmo tempo nos tornará capazes de rever nossas certezas absolutas.
Uma espiritualidade que considera essas premissas fundamentais, forjará seres humanos habilitados a agir amorosamente com o seu próximo, seja ele diferente ou semelhante. Cultivar espiritualidade na pós-modernidade é se relacionar com os aspectos imateriais que dão significados de existência ao ser humano dentro de sua própria identidade ou tradição ou a partir dela, mas sempre aberto a dialogar com o diferente. A vantagem em relação ao modernismo, é que agora não somos mais os donos da verdade, mas reconhecemos que nossa verdade é uma das muitas verdades possíveis.
Até agora eu me utilizei de termos gerais para tratar do tema de espiritualidade na pós-modernidade, sem entrar em situações específicas. Eu diria que o uso da abstração é proposital para permitir que o leitor possa ele mesmo fazer a aplicação que lhe convier. Mas o que proponho no presente artigo é uma maneira de lidar com nossos significados sejam eles mediados pela religião, pela mística ou pela nossa maneira de lidar e enxergar a vida e tudo o que fazemos e somos. É preciso que, seja lá qual for a nossa (des)crença espiritual, pensemos como habitantes do mesmo planeta, membros da mesma comunidade. O individualismo e materialismo, que imperam também nessa era, nos encaminharão para nossa auto-aniquilação. É preciso mudar, ou os seres humanos vão entrar em extinção. Exemplos disso estamos vendo diariamente nos jornais: guerra, fome, destruição do meio ambiente, aquecimento global, morte de inocentes. A vida humana tornou-se sem valor para os próprios seres humanos, porque matamos uns aos outros. Os fundamentalismos não nos ajudarão, só acelerarão esse nosso processo suicida. A utopia de um projeto de espiritualidade é fazer com que todos os homens sejam capazes de amar uns aos outros, de dar a vida uns pelos outros, sem matar e sem morrer. Paradoxal? Talvez. Mas é nossa única chance de sobreviver.
André Luiz Alves da Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário