Por Paulo Sanda
Dentro da proposta do desenvolvimento integral do ser humano, nós da RUAH caminhamos por diversos ambientes. Nas empresas, em associações, hospitais, etc. Em palestras e projetos colaborando na desconstrução e nova construção de relação de valores, na busca de uma relação sadia e descobrimento do prazer e da importância dos relacionamentos. Em projetos sociais, articulando parcerias, desenvolvendo consultoria administrativa, tecnológica e também procurando alavancar investimentos.
Durante esta caminhada, somos presenteados com “vidas restauradas”, desculpem as aspas, mas o uso do bordão religioso é somente para efeito ilustrativo. Mas para exemplificar melhor, vão abaixo algumas frases que ouvimos após a realização de algumas palestras.
“Depois da palestra o relacionamento dentro da empresa mudou totalmente. O tratamento entre as pessoas agora é muito melhor”.
“Eu me identifiquei muito com a palestra”.
“Comecei a rever meus valores, principalmente em relação a minha família”.
“Você não sabe como as coisas se transformaram aqui na empresa”.
Entre outros “testemunhos” que tenho que puxar da memória, pois não tive o cuidado de documentar. Lógico, também ouvimos:
“Não tem nada a ver”.
“Não gostei”.
“Perdi meu tempo”.
Afinal como disse nosso querido anjo pornográfico, Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”.
Feito este breve merchandising, vamos ao que interessa. Em nossa atuação por diversas associações que desenvolvem ações sociais, temos visitado trabalhos sérios realizados com carinho e dedicação. Com profissionalismo também, mas este se não acompanhado do amor, corre o risco de se tornar frio em impessoal.
Perambulamos entre ONGs que desenvolvem trabalhos magistrais e dão certo, pois realizam intervenções que vão além do simples assistencialismo, olhando o atendimento para as pessoas, como parte de um todo. Uma razão complexa não sujeita a generalizações.
Nos deparamos com projetos puramente assistencialistas, onde algumas pessoas buscam um simples analgésico para suas consciências.
Também encontramos projetos bons, com muita boa vontade mas pouco senso prático ou talvez administrativo. Isto muitas vezes os leva a terríveis rombos financeiros.
Em todos estes casos, procuramos sempre colaborar para que o que está dando certo possa ser ampliado e replicado, e o que não está dando tão certo tenha como ser aproveitado e até reconstruído.
Mas o pior estava por vir.
Já havíamos ouvido falar em projetos e instituições que começaram bem, mas no decorrer de sua existência acabaram se corrompendo, seja pela busca pelo status ou até mesmo pela apropriação de fundos por pessoas inescrupulosas.
Mas por estes dias presenciamos o nascimento de um pseudo projeto social, cujo fim é totalmente diverso do que se poderia esperar. Não pretendo entrar aqui no ramo da fofoca ou do sensacionalismo, por isto vamos nos ater à análise dos planos. Contudo antes de entrar nesta análise, tenho que dizer que raio eu estava fazendo lá.
Fomos indicados para estas pessoas, para buscar fundos para investimento na RUAH, vivemos de palestras e também de doações. Digamos que como palestrantes somos grandes pedintes. Ou talvez como pedintes sejamos bons palestrantes. Quem já leu o Vendedor de Sonhos de Augusto Cury saberá do que estou falando.
Fomos então convidados para participar de uma reunião pois este grupo de pessoas, empresários e pretensos religiosos iriam iniciar uma obra social.
Feito este parêntese, vamos a conversa e análise dos argumentos.
“Em prédio de X andares estaremos realizando atendimento médico para o povão”.
“Pediátrico, pois o que as mães ficam mais desesperadas por isto”.
“Ginecológico pois as mulheres procuram”.
“Clinico geral”.
Do que foi dito até agora;
O interesse em dar atendimento pediátrico é porque as mães se desesperam, não porque foi realizado uma pesquisa na área e foi identificada esta carência. Concordo que infelizmente há carência em todas as áreas, mas um trabalho para ser sério, precisa ser pensado. Se visamos uma determinada região temos que conhecer as estruturas existentes e propor ações que interajam com ela a fim de suprir as faltas, buscando o melhor resultado.
“Vamos contar com médicos voluntários, no início teremos alguns mas o salário não é alto, coisa de mil e poucos reais”.
Um olhar sobre a utilização gratuita do trabalho de outras pessoas e a pouca valorização do mesmo.
“O povão vai formar fila!”
“Nós vamos filmar tudo e usar”.
Bom até agora era preciso fazer um esforço para analisar se o trabalho era ou não sincero, a partir deste ponto o que temos é o seguinte;
Estas pessoas definitivamente não estão interessadas em um atendimento bom e humano para as pessoas. Querem ver formar fila. Tudo parte de um grande plano de auto-promoção.
Os diálogos após esta frase não são mais necessários.
Agora provavelmente você deve estar se perguntando; para que ele escreveu este artigo?
Para que fiquemos atentos aos projetos sociais aos quais fazemos doações?
Que analisemos nossas intenções?
Denunciar uma pretensa obra social?
Sinceramente, se você chegou a alguma destas conclusões ou outra qualquer. Ótimo.
De minha parte é apenas um desabafo.