“Eu não vejo a hora de vir trabalhar, adoro tudo isto”.
Isto não é parte de um diálogo entre um chefe e seu funcionário, ou um empregado recém-contratado.
Simone trabalha na Vivenda da Criança. Dá para entender por que.
Aos 50 anos de idade, a irmã Yvone Venditti, freira da congregação das irmãs Felicianas de Curitiba veio a São Paulo com um sonho. Tirar crianças da rua, salvando-as das drogas e da violência.
Com ajuda de muitos amigos, ela conseguiu comprar um terreno em Parelheiros, uma região com classificação de altíssimo risco social. Inicialmente ela com a ajuda de uma assistente, cuidavam de 12 meninos. Levava para escola, dava comida, cuidava da casa, reforço escolar, pagava contas, direcionamento e conceitos morais, enfim tornou-se uma mãe tanto para as crianças como para suas famílias. O trabalho que começou para cuidar de 12 crianças abandonadas, hoje abrange um universo de mais de 4 mil pessoas!
Mas o grande sucesso desta obra, é que ela envolve a criança por todos os lados. Procura dar condições de alimentação, educação e lazer para as crianças, capacitação profissional para os jovens e para os pais e ainda se envolve no ambiente familiar.
Enquanto as crianças ficam na Vivenda no período em que não estão na escola, elas tem alimentação, lazer, auxílio nos estudos, atividades lúdicas e muito carinho. No outro lado, jovens , pais e mães, frequentam cursos profissionalizantes como padeiro, manicure, cabeleireiro, costura e muito mais. Os jovens são encaminhados para empresas através de convênios como o jovem aprendiz. Mas nem só de pão vive o homem, então eles tem oficinas de música e outras atividades culturais.
Tudo isto ocorre dentro dos limites físicos da Vivenda, mas não para ai. Oito agentes vão a campo visitar as famílias, as condições de suas casas. Condições físicas e estruturais, de higiene, hábitos e também emocionais, violência doméstica, alcoolismo, etc. E lutam em todas estas frentes.
Cada agente cuida de 150 famílias!
E apesar de conviverem com um ambiente de muito trabalho e dramas humanos, onde derramam-se muitas lágrimas todos os dias, o lugar é alegre, as pessoas são felizes.
Devido ao trabalho que desenvolvemos, vivenciamos muitos dramas diariamente. Jovens que estavam sendo atendidos e foram assassinados, mulheres que mesmo sendo espancadas por seus maridos não tem outra escolha, pois vivem em um mundo séculos atrasado, crianças abusadas por padrastos, pais, tios, etc. Instituições que realizam apenas um trabalho pontual e esquecem do redor, do ambiente em que as crianças e os jovens vivem.
E visitar lugares assim são um verdadeiro refrigério para alma.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Minoria Esmadora
De uns tempos para cá aderi de corpo e alma no combate ao mega-projeto Usina hidroelétrica de Belo Monte. Não é minha intenção fazer apologia ao movimento neste artigo, mas também não posso deixar de citar meu ponto de vista em relação a isto, até porque esta questão e seus acontecimentos tem me levado a profundas reflexões.
Em um recente debate promovido pela nossa querida Mirian Leitão, dois especialistas se digladiaram. Mas debateram do ponto de vista econômico.
A questão é:
Quanto vale a vida?
Eu tenho filhos, e não os venderia por nenhum dinheiro deste mundo.
Como também não vendo o futuro deles, sou contra Belo Monte.
Mas vamos voltar alguns dias. No dia 4 de fevereiro de 2011, marcamos a primeira manifestação nacional contra Belo Monte. Bem da verdade acho que quem começou com esta história talvez tenha sido eu. Bom talvez.
O fato é que eu e o André fomos juntos ao local da manifestação em São Paulo, na avenida JK. No caminho ele me perguntou quantas pessoas estariam lá. Ao que respondi que se estivessem meia dúzia me daria por satisfeito.
Chegamos lá e nada, ninguém. Cada pessoa que ia chegando de preto ficávamos encarrando para ver se fazia parte da manifestação, nada. Mais alguns minutos foram chegando algumas pessoas. Gabriela, Carol e seu marido (desculpa cara, não me lembro do seu nome), Lara e Yuri, Verônica, Patricia, Gustavo (não se se este conta estava a trabalho hehehe, conta sim estou brincando) e o fotógrafo, ambos do Jornal Estado de São Paulo e outros (novamente desculpe pena falta de memória para nomes, mas tenham certeza meu coração não há de esquece-los).
Enfim nos juntamos a porta do Financial Center, ao que o segurança passou um aviso pelo rádio na hora. Conversamos, trocamos idéias, às vezes uma pequena frustração por sermos tão poucos. Mas no fim das contas formamos uma "minoriaesmagADORA".
Pudemos nos nutrir espiritualmente uns dos outros. Ninguém desanimou, muito pelo contrário ficamos mais motivados para continuar a luta.
Era neste ponto que eu queria chegar.
Apesar de poucos pudemos nos "nutrir espiritualmente" uns dos outros.
Neste comensalidade de alimentarmos nossos sonhos mutuamente nos tornamos realmente uma MINORIA ESMAGADORA. Não sabemos se vamos ou não realizar nosso intento de salvar a floresta amazônica, mas nossa humanidade com certeza já está salva.
Quer salvar a sua?
Em um recente debate promovido pela nossa querida Mirian Leitão, dois especialistas se digladiaram. Mas debateram do ponto de vista econômico.
A questão é:
Quanto vale a vida?
Eu tenho filhos, e não os venderia por nenhum dinheiro deste mundo.
Como também não vendo o futuro deles, sou contra Belo Monte.
Mas vamos voltar alguns dias. No dia 4 de fevereiro de 2011, marcamos a primeira manifestação nacional contra Belo Monte. Bem da verdade acho que quem começou com esta história talvez tenha sido eu. Bom talvez.
O fato é que eu e o André fomos juntos ao local da manifestação em São Paulo, na avenida JK. No caminho ele me perguntou quantas pessoas estariam lá. Ao que respondi que se estivessem meia dúzia me daria por satisfeito.
Chegamos lá e nada, ninguém. Cada pessoa que ia chegando de preto ficávamos encarrando para ver se fazia parte da manifestação, nada. Mais alguns minutos foram chegando algumas pessoas. Gabriela, Carol e seu marido (desculpa cara, não me lembro do seu nome), Lara e Yuri, Verônica, Patricia, Gustavo (não se se este conta estava a trabalho hehehe, conta sim estou brincando) e o fotógrafo, ambos do Jornal Estado de São Paulo e outros (novamente desculpe pena falta de memória para nomes, mas tenham certeza meu coração não há de esquece-los).
Enfim nos juntamos a porta do Financial Center, ao que o segurança passou um aviso pelo rádio na hora. Conversamos, trocamos idéias, às vezes uma pequena frustração por sermos tão poucos. Mas no fim das contas formamos uma "minoriaesmagADORA".
Pudemos nos nutrir espiritualmente uns dos outros. Ninguém desanimou, muito pelo contrário ficamos mais motivados para continuar a luta.
Era neste ponto que eu queria chegar.
Apesar de poucos pudemos nos "nutrir espiritualmente" uns dos outros.
Neste comensalidade de alimentarmos nossos sonhos mutuamente nos tornamos realmente uma MINORIA ESMAGADORA. Não sabemos se vamos ou não realizar nosso intento de salvar a floresta amazônica, mas nossa humanidade com certeza já está salva.
Quer salvar a sua?
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
PENSAMENTO SISTÊMICO OU HOLÍSTICO
Pensamento sistêmico é pensar no todo e não apenas na parte. É ter visão panorâmica.
Quem tem pensamento sistêmico não generaliza, mas considera cada caso. Olha o processo e não parte dele.
Quem tem pensamento sistêmico olha para o presente, passado e futuro.
É pensar de forma não linear. É não pensar apenas no aqui e agora, mas nas conseqüências, nos resultados e nas razões.
É não agir sempre por impulso, pela paixão e pela emoção. Mas também não é agir só pela razão. É agir com razão e paixão.
É não pensar apenas no “próprio nariz”, mas considerar os outros, todos os outros e a si mesmo.
É não se esquecer que não se está sozinho no mundo.
Algumas situações onde costumeiramente se deixa de pensar de forma sistêmica:
- Os criminosos. Só se olha o crime e não as situações psicológicas e sociais que levaram o indivíduo a cometer o crime. A conseqüência é o desprezo pelos direitos humanos dos presos, a aceitação de pena de morte como sendo solução para o problema da criminalidade. São soluções de idéias reduzidas e simplórias, para se livrar do problema. Um pensamento sistêmico estabelecerá projetos de educação, combate a pobreza, consciência social, trabalho de recuperação, tratamento psicológico, etc.
- Transporte clandestino. Uma reportagem na Rede Record mostrou que há um grande número de ônibus clandestinos fazendo viagens pelas estradas do Brasil por tarifas mais baratas. A opinião dos jornalistas, foi simplista e linear, pois disseram simplesmente que a solução seria fiscalizar e prender os responsáveis. Ora, deve-se perguntar porque pessoas compram essas passagens mais baratas? Porque esses motoristas trabalham dessa forma esses ônibus em péssimas condições? Existem outras alternativas. Perceba que quando fazemos perguntas do tipo “por quê”, ou seja quando procuramos as reais razões, estamos pensando de forma sistêmica ou holística, ou seja procurando cobrir todos os lados antes de oferecer um julgamento e respostas simplistas.
- Maridos e Esposas. Se cônjuges pensassem de forma sistêmica, as brigas poderiam ser evitadas. Pois normalmente nessas horas, cada um só olha o seu próprio pedaço e tenta defendê-lo com unhas e dentes sem pensar na situação do outro. Já percebemos por aqui que pensar de forma sistêmica não é tão fácil, faz a gente entrar em conflito consigo mesmo. Nossa natureza parece sempre tender mais ao egocentrismo.
Na empresa, precisamos começar a pensar de forma sistêmica:
- Departamentalização. A cultura de “bairrismo” impera em muitos setores. Pessoal do comercial não se atenta para as questões fiscais. Não olha o todo: empresa-cliente-governo-o povo-imagem-colega da área fiscal-família do colega-etc.
- Defender o meu “cargo”. Estamos tão afoitos em defender o próprio cargo que nos esquecemos da razão pela qual nosso trabalho existe como parte do um todo da companhia, que no final das contas precisa atingir seus objetivos, que por sua vez contribui para todos os colaboradores atingir os seus objetivos.
- Lucro acima de tudo. Ter lucro acima de tudo, sem pensar no funcionário que é explorado, sem pensar no meio ambiente que pode estar sendo prejudicado, sem pensar no todo.
Você já ouviu falar do “Efeito Borboleta”? Tudo o que você faz tem efeitos mundiais.
Já vimos que não é fácil pensar sistemicamente ou holisticamente. Então o desafio é grande. O programa de espiritualidade na empresa é essa alternativa de pensar sistemicamente procurando minimizar nas relações que temos com o mundo, com os outros e conosco mesmos, os impactos de nossa desvairada ação e pensamento linear.
Um outro risco que mencionamos apenas, referente a falta de um pensamento holístico são as famosas generalizações, que na verdade não passa de reducionismo, ser simplório. Frases do tipo: Padre é tudo pedófilo, Pastor é tudo ladrão, carioca é tudo metido, praia é tudo igual, político é tudo ladrão, etc. Mesmo que as vezes isso pareça ser verdade, é um engano da mente. Pois deixa de enxergar os que apesar de serem da mesma profissão ou de uma certa classe, deixa-se de considerar as particularidades. Então olhar o todo, é olhar também todas as partes possíveis. Daí a necessidade que temos do complexo ao invés do simplório. Veja não estou falando de simplicidade no sentido de humildade ou de viver de forma simples. Falo sobre a necessidade de se considerar toda a complexidade da vida e do universo, e isso também em todas as áreas da vida humana, inclusive numa empresa.
“Na linguagem cotidiana , uma situação complexa soa como confusa e difícil de resolver. Evoca uma realidade cheia de dobras, nas quais escondem variáveis difíceis de serem compreendidas. Confunde-se complexidade com complicação, algo que não é fácil de explicar nem de resolver.” (AFONSO MURAD – GESTÃO E ESPIRITUALIDADE – EDITORA PAULINAS – PG.178)
Murad também explica a etimologia da palavra “complexo” que origina-se do latim “complectere”. A raiz “plectere” significa trançar, enlaçar. Remonta ao trabalho de fazer cestas. O sufixo “com” acrescenta o sentido de dualidade dois elementos opostos que se enlaçam intimamente. Ou seja o pensamento complexo lida com conflitos, com o diferente. Ainda, o perplexo, “per” significa levar ao extremo algum coisa, por exemplo “perfeição”, não dá conta de lidar com as diferenças. Ele permanece “enrolado” nas complexidades. Pensar de maneira sistêmica é lidar com as complexidades, é ter pensamento complexo.
No ambiente de trabalho é preciso lidar com dimensões completas, inclusive de nossa humanidade. Lidar com nosso lado material e lidar com o nosso lado espiritual. Lidar com os valores da empresa e lidar com os nossos valores pessoais. Lidar com os meus valores e lidar com os valores dos meus colegas. Lidar com os meus problemas do meu setor e com os problemas do outro setor. Lidar com coisas antagônicas. Lidar com questões econômicas e lidar com questões humanas ou espirituais. Se não nos dispomos a essa “lida” com a complexidade, fatalmente ficaremos perplexos e assim permaneceremos até por fim “morrermos”.
Nesse sentido um grande problema do mundo pós-moderno é que ele tornou-se tão complexo, tão abarrotado de informações, que o que temos hoje são os especialistas. As escolas formam especialistas, mas não formam um ser humano integral. De fato, será necessário nos concentrarmos em uma especialidade para não nos perdermos nas infinitas opções e especialidades que existem. Faça uma busca no Google de qualquer tema e você terá uma infinidade de sites, blogs sobre o tema. Entretanto, mesmo tendo que ser especialistas não podemos perder a noção do todo, no mínimo em saber que existem visões diferentes sobre o mesmo assunto ou problema.
Podemos então concluir que ter um pensamento holístico ou sistêmico é não perder de vista os outros pontos de vista.
André Luiz
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